Desde que passou a transformar galerias de escoamento em suas galerias de arte, em 1998, Zezão se depara com tudo o que se possa imaginar nos túneis subterrâneos: pneus, sofás, animais mortos e até telefones públicos. Toneladas de lixo, que agravam as enchentes nas grandes cidades – em 2010, as chuvas mataram 473 pessoas e afetaram 7,8 milhões no País. “Acho que é mais fácil falar o que eu não encontrei”, brinca o grafiteiro. “O papel jogado nas ruas vai para o bueiro e de lá, para um córrego, que desemboca num rio. O governo limpa o rio, mas as veias do sistema de saneamento, que são os córregos, continuam lotadas de resíduo”, explica Zezão. “Choveu, transborda. É como jogar a sujeira para debaixo do tapete”.
Ex-pixador e fã do pintor Jean-Michel Basquiat, Zezão grafita desde 1995. Em 2003, começou a ganhar notoriedade por conta das empreitadas em esgotos urbanos. Logo veio a primeira exposição, na Choque Cultural – galeria tradicional de street art em São Paulo. Depois, pintou paredes em lugares como Itália, Suíça, França, Alemanha e Estados Unidos. Em 2009, participou da exposição “De dentro para fora / De fora para dentro”, no Museu de Arte de São Paulo, o MASP.
Se a sujeira jogada por aí acaba entupindo o “museu” subterrâneo do grafiteiro, a população também é responsável pelo problema, certo? Sim. “Existem projetos que educam a galera sobre as formas de reciclar e eliminar o lixo. Mas muitos [cidadãos] não exercem a consciência ambiental, e outros não têm noção do que é nocivo”, acredita.
Mesmo com a falta de cuidados do governo e de consciência de alguns cidadãos, Zezão acredita que as coisas podem melhorar nos subterrâneos – pelo menos se algumas providências forem tomadas na superfície. “Imagino que seja [uma solução] mais fácil os garis desentupirem as bocas de lobo e varrerem as calçadas do que o poder público mandar alguém limpar as galerias pluviais, que estão fod***, cheias de lixo”, opina. O que diz o governo?
Em São Paulo, novas ações para o controle de enchentes foram anunciadas na última terça-feira. Além disso, o governo deve dar atenção especial às regiões abarrotadas de lixo. “A previsão é que seja removido 4,1 milhão de metros cúbicos de resíduos de áreas críticas, como os rios Tietê e Pinheiros”, afirma o secretário de saneamento e recursos hídricos do estado, Edson Giriboni.
O governo federal também anunciou a liberação de R$ 700 milhões para estados afetados pelas chuvas – só ontem, mais de 300 morreram devido a enchentes no Rio de Janeiro. As cidades cariocas que mais sofrem com o problema são Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, todas na Região Serrana.
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Fonte:IG jovem
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