quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Estreia – A Suprema Felicidade

Brasil, 2010. Direção de Arnaldo Jabor. Com Marcos Nanini, Maria Flor, Jayme Mattarazzo, Mariana Lima, Ary Fontoura, Elke Maravilha, João Miguel, Maria Luisa Mendonça, Dan Stulbach.Paramount. 123 min
Afastado do longa metragem desde 1986 (Eu Sei que Vou te Amar), Jabor retorna ao cinema com este romance aparentemente autobiográfico. Infelizmente parece ter perdido a mão para a direção.
Interminável, tem um roteiro tosco, mal alinhavado, sem história, sem estrutura, que vai caminhando aos tropeços, sem cronologia aparente, no que pretende ser uma carta de amor a cidade do Rio de Janeiro da Urca a partir do fim dos anos 40.
Embora não haja referências de época muito fortes, a trama acaba se diluindo e se tornando repetitiva para se tornar uma variante na Primeira Noite de um Homem. Nem sequer se torna uma declaração de amor ao cinema como parecia prometer, com citações de canções americanas (no original, e não em versões, como era habito na época) e o Morro dos Ventos Uivantes.
O personagem do protagonista é dividido em três garotos de idades diferentes e nada em comum, inclusive a cor dos olhos varia, culminando no mais inexpressivo deles todos, Jayme Mattarazzo, neto de Maysa, que passa o filme todo com a mesma expressão de nada.
Sabe-se que ele é mau aluno (como aquele garoto iria se tornar um Jabor, loquaz e inteligente?), vive frequentando os cabarés da Lapa onde seu avô é músico (Marcos Nanini), casado com uma velha polaca (Elke). De vez em quando dá a impressão de que há a vontade de transformar o filme em musical, com um elaborado número de carnaval coreografado que começa promissor, mas morre na praia.
O problema é todo o grande elenco estar mal dirigido, a direção de arte é duvidosa e não há um elemento unificador (será que não pensaram em colocar um narrador em off ao menos para se ter algo mais aproveitável?).
Cai-se na antiga cantilena da mãe infeliz, sufocada pelo marido militar e boêmio (Dan Stulbach), nas atrações por mulheres malucas (Maria Flor, que faz uma alucinada atormentada por espíritos, aliás, por várias vezes o filme questiona a existência de Deus) e finalmente, por uma jovem de 16 anos que faz dublagem em boate (a bela Tammy da novela Passione), que acaba sendo a única Marilyn Monroe esquelética da história do cinema.
Sem graça (a ideia de humor é repetir trocadilhos chulos), o filme se segura graças a uma ocasional humanidade de um ator (como Emiliano de Queiroz) ainda assim prejudicados pela figuração que não convence.
Quando tudo parece perdido, de vez em quando surge como um raio de luz, a figura luminosa de Marcos Nanini, que dá vida e colorida a presença do avô. Apesar dele passar rapidamente demais da maturidade para a senilidade, Nanini está perfeito, rouba o espetáculo e dá uma ideia  do que o filme poderia ter sido e não conseguiu ser.


Autor: Rubens Ewald Filho - Crítico de cinema

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